terça-feira, 12 de agosto de 2008

Ser repórter é estado de espírito. Ser jornalista é profissão

Esse pensamento martela a cabeça de muita gente. Na verdade devemos refletir sobre os caminhos dessa profissão que, como muitas, vão do céu ao inferno em poucos segundos. É comum pessoas invejarem jornalistas por sua proximidade com artistas e poderosos de toda sorte, porém as mesmas pessoas são capazes de lhes jogar pedras por desnudarem a vida de famosos e outros nem tanto, as chamadas celebridades instantâneas. Esse é apenas um filão do jornalismo, responsável por picos de vendas de revistas ilustradas ou o ibope de programas sensacionalistas de rádio e TV.
O jornalista pode ter múltiplas funções – editor, redator, diagramador –, que vão ganhando novos nomes ou sendo substituídas na medida em que a tecnologia avança.
O repórter é antes de tudo um cara curioso, até chato. Detalhista, insistente, pentelho mesmo. Não pode desistir diante de um rosto fechado, um segurança carrancudo, um telefone que insiste em dar sinal de ocupado. Precisa ser persuasivo, obstinado, apaixonado. Pronto! Chegamos ao ponto crucial: impossível ser repórter sem gostar do que faz, sem ter vontade de fuçar aquele assunto mais e mais, de checar uma informação nova, buscar o contraponto, atiçar a polêmica.
Repórter que é repórter não teme passar do horário, não rejeita pauta. Parece que isso faz parte de um passado. Lamentavelmente professores afirmam não sintir nos alunos de Jornalismo de hoje a paixão pela reportagem, a maioria está mais preocupada em sobreviver e tem como sonho de consumo um bom emprego numa assessoria de imprensa.
A assessoria de imprensa começou a se disseminar no Brasil na época da ditadura. Era coisa de jornalista velho e/ou acomodado, gente que tinha medo de ir para a rua e cobrir passeata de estudante, de ver o pau comendo. Com o tempo, o papel do assessor mudou. Hoje, muitos deles auxiliam o repórter a encontrar as melhores fontes, sugerem pautas interessantes e, muitas vezes, nos poupam tempo, o que é muito útil para quem tem várias matérias para fazer.
Diante disso, onde fica a paixão, o tesão de reportar, contar o que viu, o que sentiu, botar vida na matéria? Que coisa mais fora de moda... Hoje em dia procura-se ir o mínimo possível para a rua, isso toma tempo, gasta dinheiro da empresa. Para que existe telefone, internet? Ctrl+c, ctrl+v.
As pessoas estão deixando de ler jornal, reclamam. As pessoas não têm tempo, nem saco para ler, sobretudo matérias longas. Ok, você venceu. Mas quem vai descrever, narrar a vida cotidiana para os que vierem depois? Os escritores? Os colunistas? Os blogueiros? Talvez seja isso mesmo e esteja em curso uma revolução na comunicação de massa da qual ainda não nos demos conta.
O verdadeiro repórter não está nos bancos das escolas de comunicação. Na faculdade obtém-se apenas mais um diploma, que vai garantir melhores salários quando se conseguir passar num bom concurso público. O repórter de boa cepa está em seu apartamento filmando armações de traficantes.
Ser jornalista é uma profissão nobre ou não, como qualquer outra, dependendo do uso que se faz dela, da ética de cada um. Ser repórter é estado de espírito, é pedreira, é escolher o caminho mais difícil pelo simples prazer da aventura. Que o diga o finado Tim Lopes, um dos repórteres mais valentes da geração dos anos 70.

Autor Desconhecido
Homenagem do Grupo Sobral ao Dia do Repórter (Fevereiro 2007)

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