terça-feira, 12 de agosto de 2008

Mais um na multidão


O Natal estava chegando, e ainda faltavam alguns presentes para minha lista, devido a variedade e o baixo preço, resolvi compra o que faltava no centro de Porto Alegre. Mal sabia eu do que me esperava. 14h e 10 minutos eu estava saindo da passarela no sentido centro quando de repente levei um chute nas pernas, ao olhar para trás, não vi nada, pois era muita gente indo e vindo, quando voltei meu olhar para frente só senti aquele esbarrão e a voz dizendo “Passa a grana magrão... passa a grana!!!”, tentei ir para trás e recebei mais um esbarrão de outro cara, dei uma rápida olhada na volta e me dei por conta, era um assalto, eu era apenas mais um na multidão, e estava sendo assaltado.

Por anos fui a Porto Alegre sozinho e nunca imaginei que aconteceria comigo, aliás, agente sempre pensa que com agente não vai acontecer, e o pior que um dia acontece, porque não estamos livres de nada.

Ao ser abordado minha primeira resposta foi “Não tenho nada cara”, ele mais esperto e mais preparado que eu, sacou o revólver encostou nas minhas costas e disse “Eu sei que tu tem magrão, passa a grana duma veiz”, apenas com R$ 5 reais no bolso, troco da passagem entreguei pra ele, na hora me respondeu “Quero mais, quero mais”, e começou a revistar meus bolsos até achar a carteira, pedi encarecidamente para que não levasse meus documentos, a gana dele era tanta por dinheiro que me olhou e disse “Não quero documento eu quero é grana, passa, passa, passa”, assim ele abriu minha carteira e achou R$ 20 reais lá.

Não bastando isso diz “Cadê o celular mano, passa o celular”, eu na hora respondi “Não tenho celular” ele engatilhou o revolver e me respondeu “Eu sei q tu tem cara me passa duma veiz”, seu amigo que estava atrás de mim me dizia toda hora “Passa pra ele maluco se não te dou um soco e tu morre aqui mesmo”. Quando o vi engatilhando a arama, me passou de forma rápida um filme da minha vida em minha cabeça, ao mesmo tempo em que tirava o celular do bolso e entregava pra ele, de uma forma que me dava raiva, ele por sua vez pegou o celular analisando e desmontando as peças e entregando para o seu amigo.

Ainda com a arma nas minhas costas ele disse ”Entra naquele ônibus ali se não tu já sabe o que te acontece” dei um passo a frente e ele retrucou “Nesse não, no ônibus de trás”, com a graça de Deus era a lotação que passa próximo a fábrica da minha namorada, cheguei lê uns 15 minutos após o assalto, um tanto que assustado.
Foram os 30 ou 40 segundos que mais demoraram para passar na minha vida, e os mais apavorantes. A hora era inadequada, o fluxo de gente também era anormal, fugindo dos padrões de assaltos que lemos em jornais ou vemos na tv em ruas com pouca gente, cedo da manhã ou quase anoitecendo.

Sei que lá estava eu, mais um no meio da multidão, mais uma vítima da violência urbana. Se pudesse fazer apenas um singelo pedido aos futuros governantes deste estado e do país, seria para que fosse investido mais em segurança e em educação. É somente investindo em segurança que se bane a violência e se pune os homens de hoje, e só com investimento em educação, é que não será necessário punir os homens de amanhã.

Coluna de Joel Maraschin, Dezembro 2006

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