terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A natureza cobra seu preço



As chuvas intermitentes voltaram a se repetir neste final de semana, mais intensas ainda que das outras vezes. Dezenas de ruas ficaram completamente alagadas, a maioria no centro da cidade.

A grande mídia já divulga o porquê dessas chuvas que são as maiores dos últimos 30 anos. Umidade vinda da Amazônia, El niño, e outra série de modelos metereológicos causaram esse aguaceiro brabo.

E está cada vez mais provado que o crescimento desordenado e a falta de um planejamento foram o maior responsável por todos esses alagamentos. Um exemplo que ouço muito as pessoas falarem é como os engenheiros e arquitetos que construíram as Lojas Lebes, na Av. Piratini simplesmente ignoraram o fato de em seu subsolo passar uma sanga? Toda vez que as chuvas começam a loja alaga!

Mas esse não é um fato isolado, com o crescimento da cidade no passado, açudes foram aterrados, sangas desviadas, casas e prédios foram construídos em cima de córregos. Só agora que os resultados estão aparecendo e a natureza talvez se vingando.

Até parece meio clichê ficar jogando a culpa na natureza, usar idéias de ambientalistas, isso ou aquilo. Mas parem para pensar, olhem, observem e analisem em Butiá às margens dos arroios que passam pela cidade.

Acompanhamos o leito do Arroio Cascata (é aquele que passa pela escola Marechal Rondon, depois pela entrada da Vila Julieta, e por fim atrás da Prefeitura) está semana e notamos além de quilos e quilos de lixo que são jogados dentro d’água, muitas casas foram construídas praticamente dentro da margem do arroio, aterrando e diminuindo o curso natural da água. Além de muitas casas em sua volta que jogam seu esgoto descaradamente para dentro do arroio. Num ponto com a erosão que causada pela força da correnteza, mais de 10 canos ficaram descobertos.

Esta não é uma crítica aos moradores! Talvez muitos deles não acompanharam o projeto de construção da casa, ou já compraram a residência sem saber que seus esgotos deságuem dentro do arroio, só que a partir disso começamos a achar explicações para os alagamentos.

E outra, lugares onde antes havia peixes, hoje já não existem mais. Quando os peixes desaparecem a certeza da poluição é inegável.

As chuvas foram excessivas, ninguém nega, mas a partir disso podemos entrar no assunto paradoxal dos ambientalistas. Por que a intensidade dessas chuvas? É o aquecimento global? O lixo, a sujeira, o esgoto, são um dos responsáveis pelos alagamentos?

Lembro-me do Professor Victor Hugo Tomé, além de todas suas qualidades, eram um eterno defensor das causas ambientais. Ainda quando era vivo e trabalhava ao meu lado no Jornal Sobral, estávamos iniciando uma série de matérias sobre o arroio Cascata, relatando que ano a ano seu leito vinha sendo diminuído por construções e aterramento sem autorizações.

Até estava dentro do nosso planejamento, percorrer por dentro do arroio, todo o seu trecho urbano. Isso aconteceria no verão, quando as águas estariam mais baixas, só que naquele verão o Victor passou mal, foi internado e não mais voltou. A matéria por consequência acabou engavetada.

Ele um dia me disse:
- Carinha, não interessa o tempo que vai demorar, mas um dia a natureza vai cobrar seu preço e eu não vou estar vivo para ver.

É ele tinha razão, parece que ela está começando a querer a acertar as contas com agente, e ao que tudo indica, é só o começo.

Nenhum comentário: