sexta-feira, 17 de abril de 2009

E se fosse lucro?



Chegamos ao final da série de quatro reportagens sobre a situação da criminalidade em Butiá, nossa estimativa de presos, e como está a situação de pessoas que sofreram diretamente com isso.

Passamos dois dias inteiros dentro da Penitenciária de Encruzilhada do Sul, reduto de butiaenses criminosos a 94 km daqui. Quando iniciamos a reportagem eram 32 presos, hoje mais de 40. No sistema prisional de Charqueadas chegam a mais de 100.

Somando o total de presos do estado, Butiá tem sozinho quase 1% do total de apenados do RS, índice alto de mais para uma cidade com apenas 20 mil habitantes. A Polícia Civil e a Brigada Militar da cidade são uma das mais competentes da região, estão fazendo a sua parte e a comunidade agradece.

Mas tudo pode mudar. Dentro e alguns meses, Encruzilhada já super lotada, não receberá mais o presos de Butiá. Charqueadas e o Presídio Central, há alguns anos já não recebem mais os presos daqui. A solução será Rio Pardo e Santa Cruz. O Primeiro interditado e o segundo também super lotado. Solução? Cumprir os mandados, prender e 24 horas depois soltar por não ter para onde mandar.

O que seria desestimulante para a melhor Delegacia da Região. O sistema penitenciário gaúcho está falido. Somente novas penitenciárias e a privatizações de algumas é que podem salvar o estado do caos. Ai é que se encontra o problema, a população da maioria dos municípios é contra a instalação de novos presídios.

Butiá é um exemplo. Fomos candidatos anos atrás a receber um, porém toda a comunidade foi contra. Em Arroio dos Ratos aconteceu o mesmo. Como nossos níveis de criminalidade eram baixos mesmo, a comunidade tinha razão. Hoje a situação é diferente.

Charqueadas não pode receber mais penitenciárias, pois seu sistema compreende quatro instituições: A Colônia Penal Daltro Filho, a Penitenciária Estadual do Jacuí, a Penitenciária Modulada de Charqueadas e a Penitenciária de Alta Segurança da Charqueadas, a mais segura do Rio Grande do Sul, conhecida como “Tio Patinhas”. Charqueadas com seus 35 mil habitantes, quatro presídios e índices criminais menores que Butiá.

O governo anunciou ainda em 2009 iniciarão as construções de novas instituições penais na Grande Porto Alegre. Canoas e São Leopoldo se candidataram. Guaíba e Eldorado do Sul são fortes cidades candidatas, inclusive Arroio dos Ratos que era contra começa a ter pareceres favoráveis, até Minas do Leão anda sondando.

Agora Butiá, a cidade que mais possui apenados, traficantes e criminosos na Região é totalmente contra. Qual é o medo da comunidade? Ouço muitos: “Ah se houvesse fugas os presos se esconderiam aqui”, mas é claro que não. Com uma fuga, as buscas iniciariam primeiramente dentro cidade. Alguém que se diz inteligente ao fugir da prisão seria burro o bastante para se esconder onde está sendo procurado? Outra, o Batalhão da BM teria no mínimo triplicado o número de soldados e viaturas, a cidade se tornaria mais segura, o crime e o tráfico encolheriam cada vez mais.

Pense como se tivéssemos duas empresas: Butiá e Encruzilhada. Como qualquer empresa elas visariam lucros certo? Ambas pertenceriam aos mesmos donos: a população local e o lucro e os prejuízos seriam dividido entre cada um de sua comunidade.

Imagine Butiá como se fosse a filial mais lucrativa das duas. Milhões e milhões de reais seriam divididos mensalmente. Seria uma maravilha. Como a produção de Butiá era maior, todo o prejuízo que dava era desviado para a filial de Encruzilhada.

Assim tudo de bom ficaria aqui, e o que não prestava da empresa seria mandado pra lá. O mesmo aconteceria com o lucro de Encruzilhada, tudo de bom viria pra cá.

Se fosse lucro seria bom né? Dinheiro as pencas aqui, e os problemas, como se não fossem nossos, mandaríamos pra Encruzilhada. De uma fábula a realidade, é exatamente isso que está acontecendo.

Butiá prende os criminosos e manda pra Encruzilhada. Rola um pensamento tipo “Ah eu não quero nenhum presídio aqui, mandamos pra Encruzilhada e eles que resolvam” E quem ajuda a Penitenciária da cidade com seus problemas? Butiá? Não, não, Butiá nunca ajudou em nada, quem auxilia na manutenção do presídio é o Conselho Comunitário de Encruzilhada.

Comida, materiais para limpeza, para infraestrutura, e muitas outras coisas são doadas pelos encruzilhadenses que ajudam a manter o presídio lotado por butiaenses. Fora as famílias, a maioria sem condições, gastam mais de R$ 50 só em passagem, cada vez que vão ir visitar os filhos, maridos, irmãos e pais que lá estão pagando suas dívidas com a sociedade.

“Ser ou não ser? Eis a questão!” Do termo paradoxal de Wilian Shekespeare, sugiro que pensem num “TER OU NÃO TER” Butiá deve continuar mandado seus presos para Encruzilhada e virar as costas para todos os problemas que envolvem além do cárcere? Ou a comunidade deve repensar nossas reponsabilidades para com os crimes que são cometidos aqui?

Como diz o ditado: não adianta varrer a poeira para debaixo do tapete.

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