sexta-feira, 29 de maio de 2009

Desculpe, eu matei seus filhos



Esta semana devido os mais diversos assuntos e acontecimentos, uma grande lacuna ficou aberta para qual deles eu devia direcionar minha opinião. Não dá pra falar só de política, por que fica algo cansativo. Mas não tem como deixar passar em branco o acidente causado pelo deputado paranaense Fernando Ribas Carli Filho, 26 anos, vitimando outros dois jovens.

Ele é boa-pinta. Poderia ser ator. Mas decidiu candidatar-se a deputado porque o pai é prefeito de Guarapuava, no Paraná, e o tio também é parlamentar. Com a mesma idade de um dos rapazes mortos na madrugada do dia 7, o que ele deve ter dito a mãe dos jovens?

Talvez um:
- Perdão por ter causado a morte de seus filhos em segundos.

Mas deveria dizer também:
- Perdão por ter destruído, a 190 quilômetros por hora, o carro onde estavam Gilmar Yared, de 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20. Eu tinha bebido muito. Perdão por não me lembrar de que existe Lei Seca. Perdão por não ter deixado de dirigir, mesmo com 130 pontos na carteira e 23 multas por excesso de velocidade. Perdão por ter violado as leis dos homens. Perdão pela Justiça, que não me punirá porque sou deputado e tenho foro privilegiado.

Yared era estudante de psicologia. Carlos Murilo trabalhava no cinema de um shopping havia cinco meses. Tiveram morte instantânea. Uma testemunha, viu da janela de casa. Disse que o carro do deputado estava tão veloz que decolou e passou por cima do outro. Pedaços dos carros ficaram espalhados na rua por 100 metros. O carro das vítimas virou uma massa retorcida, sem teto e sem uma porta.

Acidentes acontecem. Alguns são fatalidades. Só que este foi um crime. Desde julho do ano passado, o deputado estadual Carli Filho (PSB) tinha perdido sua carteira de habilitação. Mas estava se “lixando” para esse detalhe.
Não fizeram o exame de dosagem alcoólica na hora, por que o deputado estava tomando medicamentos e era preciso ter autorização. No corpo dos jovens já mortos, foi feito e sem autorização da família.

Mas depois, através de um exame de sangue, descobriu-se que ele estava sim embriagado e com níveis quatro vezes acima do permitido.

Ou o deputado bebe demais sempre, ou é capaz de dirigir tresloucadamente, mesmo sóbrio e em sã consciência. Em três de suas 30 multas, foi flagrado pelo radar com 50% acima da velocidade permitida. Apenas em um dia, do ano passado, foi multado quatro vezes por excesso de velocidade em pouco mais de duas horas. E pensar que Carli Filho é autor de projeto de lei que prevê benefícios para bons motoristas.

A família dos jovens mortos pediu a cassação do deputado por “quebra de decoro parlamentar”. Despido do mandato, ele perde o direito ao foro privilegiado e vai a júri popular. É o início de uma luta cheia de dores, frustrações e lágrimas, que não trará seu filho de volta. Uma luta contra padrinhos importantes: o governador do Paraná, Roberto Requião, teria mandado jatinho do Estado levar o deputado para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

O deputado Carli Filho respira sem a ajuda de aparelhos e passa por exames clínicos e neurológicos. Ainda não há previsão de alta. Ele fará cirurgias para reconstrução da boca e da face. Quem sabe, junto, os médicos reconstruam sua consciência. E ele peça perdão às mães de Gilmar e Carlos.

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